Fonte:www.ensinaradistancia.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Escolas-abandonadas22.jpg
Irá completar sete anos que me formei no ensino médio e nove que sai da escola pública, que frequentei por 12 anos (contando o pré-escolar). O tempo com certeza apaga muita coisa da memória.
Esse ano participei de forma tímida da greve dos professores do estado de Santa Catarina. Ainda sou apenas estudante universitário e não dou aula. Mas isso me deixou mais claro a realidade enfrentada diariamente pelos profissionais em educação. Por mais que discutimos e estudamos o caos que os governos – a mando da burguesia – deixaram a educação no Brasil, nada como a práxis para visualizar melhor o cenário.
Chegou a hora de fazer meu estágio da faculdade. E estou começando com uma escola da rede estadual de Santa Catarina. E visualizar tudo na prática me deixou perplexo. Realmente eu não entrava em uma escola pública há anos. Não conseguia parar de lembrar da greve, dos estudos, dos índices sobre educação no país, de como é necessário e urgente uma Revolução Socialista. Fiz várias anotações desde o momento que pisei o pé lá.
A professora foi muita querida comigo e era notável que os alunos gostavam dela. Mesmo a aula iniciando atrasada, nem metade dos alunos tinham chego. Provavelmente é reflexo das péssimas condições das estradas do município e do atraso dos ônibus escolares. Como é a única escola da cidade com ensino médio, não é pouco o numero de deslocamento de pessoas do interior até o centro.
Ela começava a entregar as provas e pelo que eu percebia a maioria das notas era entre 2 e 4. Sei que o assunto era complexo (Idade Média), mas nem o assunto e nem as notas causava estresse na turma. Era como se aquilo não fosse acrescentar nada em sua aprendizagem. O assunto do dia era As Grandes Navegações, o qual era nítido o domínio por parte da professora e como ela trazia comparações atuais para tentar fixar o conteúdo com eles.
Infelizmente as dúvidas e as discussões não emergiam. Ela falava com as paredes ou pedia silêncio, no caso da segunda turma. Quando um aluno se questionava eu pensava “agora vai”, mas ela não podia estender muito o debate, pois os minutos passavam e ela tinha que dar conta de passar a matéria. Tudo fica preso ao relógio.
Alguns alunos sequer tinham levado o livro. Os que tiravam nota baixa estavam conversando e outros mexiam no celular. Eu tinha aquela sensação que a professora já estava fazendo a mesma coisa há anos e aquilo cansava. Parece que o projeto burguês estava fluindo muito bem. Com a falta de perspectiva e de incentivo moral e material por que professores e alunos deveriam ultrapassar seus limites? A burguesia quer os filhos dos trabalhadores como futuros trabalhadores. Pois seus filhos estão nas melhores instituições privadas. Longe da realidade e dificuldade da grande maioria.
As paredes, o quadro e as carteiras estavam todas rabiscadas. Isso que era uma das escolas considerada das “melhores” da rede estadual. Sem mapas ou retroprojetores, apenas rabiscos. Quando eu não me deparava com a denuncia que algumas salas, em dia de chuva, pingava na cabeça do professor e dos alunos.
Alguns políticos ligados ao partido do governador Raimundo Colombo, o PSD, defendem, hipócrita e ridicularmente, que precisava-se cortar gastos por conta da crise. Mas não se lembram disso na hora de desviar verbas, de superfaturar obras públicas ou pagar o absurdo da mal falada dívida pública. Demitem aos milhares, rebaixam os salários dos professores, mantem estruturas precárias e deixam a juventude na miséria, o que hoje a turma entre 18 e 24 anos já sofre com mais de 25% no desemprego. Tudo para assistirmos os grandes empresários, multinacionais e banqueiros baterem recordes de lucro. A elite catarinense não foge a regra, alguns setores até expandiram suas vendas para exportação.
Dentro da perspectiva capitalista fica impossível modificar a realidade que eu enxerguei e que milhões sentem em todo o país diariamente. Temos que enfrentar a crise de forma independente do governo e dos patrões e banqueiros. Construir nas lutas e nas greves uma alternativa de governo dos trabalhadores, sem patrões e sem corruptos.
Dar incentivo moral e material as crianças e aos jovens, para que ainda possam sonhar com o futuro. Não é possível que, em todo Brasil, se fechem 14 mil escolas públicas em 10 anos para abrir 6 mil escolas particulares. A conta não bate muito menos o dinheiro para bancar isso.