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Em defesa dos refugiados haitianos e africanos | PSTU-CRICIÚMA

Desde o mês de julho de 2014, Criciúma, cidade do sul do estado de Santa Catarina, foi surpreendida com a chegada de dezenas de cidadãos africanos. Vindos de diversos países como Senegal, Gana e Uganda, se somam aos haitianos que já estão no estado e aos que continuam chegando. Entre os africanos, destaca-se o enorme número de ganeses, cerca de 90% dos imigrantes. Este processo de imigração já ocorre há algum tempo, mas a Copa do Mundo e a possibilidade de entrar no país por causa dos jogos, proporcionou um salto na imigração, estimando-se a entrada de cerca de 1600 africanos.

O movimento de grandes grupos de negros andando juntos, falando inglês ou outros dialetos, começou a chamar a atenção dos moradores desta pacata cidade do sul. Em julho 2014 uma reportagem do grupo RBS, afiliada da Globo no estado, expôs varias denúncias da situação em que os africanos se encontravam. São condições impressionantes, subumanas, de fome, miséria, falta de moradia e das condições mais básicas de vida. A partir dai houve uma série de iniciativas humanitárias, individuais e coletivas, provenientes da própria população, que se mobilizou para garantir o mínimo de assistência a esses imigrantes.

O Coletivo Chega de Racismo, do qual o PSTU participa, rapidamente chamou uma reunião para que pudéssemos discutir uma campanha de exigências de políticas públicas que garantissem condições mínimas de dignidade e a permanência de nossos irmãos africanos no país. Juntamente com outros setores do movimento negro, foram realizadas reuniões com setores governamentais e com a Polícia Federal, na tentativa de entender e ajudar a resolver os problemas relacionados ao pedido de refúgio dos africanos. A Igreja católica, através da Cáritas Brasileira, também se mobilizou, organizando um grande Fórum humanitário com a presença de mais de 350 pessoas e de diversas entidades.

A existência de várias frentes de solidariedade, porém, não tem impedido o aumento das manifestações racistas e xenofóbicas. Houve, por exemplo, o caso de moradores que procuraram o CONSEG (Conselho de segurança dos bairros), motivados apenas pela desconfiança do fato de haverem muitos negros circulando pela cidade.

Mesmo dentro do movimento sindical e popular da cidade muitas vezes temos dificuldade. Há um setor que defende o governo e tenta impedir que a luta se choque contra as principais autoridades. Mesmo setores da própria prefeitura - a mesma que atacou as cotas raciais para concursos públicos - participam da frente criada para defesa dos direitos dos imigrantes africanos. Por isso, nós do Coletivo Chega de Racismo, mantemos nossa independência sempre, participando da frente para organizar a luta, mas defendendo a necessidade organização do movimento negro independente dos governos, com uma discussão não somente de raça, mas também de classe.

Nossa luta em defesa de nossos irmãos africanos é uma luta em defesa de todo o povo negro. É uma luta contra o racismo, contra a xenofobia, por direitos iguais para todos os trabalhadores. Não é possível que um estado que se orgulha tanto de ter tido uma colonização de imigrantes europeus, hoje trate com desprezo africanos na mesma condição que tinham os italianos e alemães que vieram para o Brasil.

Os imigrantes africanos e haitianos são trabalhadores e trabalhadoras que fogem de situações de miséria extrema e não podem continuar sofrendo o descaso dos governos e nem se tornarem presas da exploração selvagem a que muitos empresários os querem submeter.

Por isso exigimos que os governos regularizarem a situação dos exilados com direito a permanência e trabalho no país. Também exigimos que fiscalizem para o cumprimento da legislação trabalhista, uma vez que já tivemos casos de denúncias de situações análogas a escravidão. Por fim, é necessário que os africanos e haitianos tenham condições mínimas de moradia e alimentação garantidas, até que estejam em condições de se manterem.


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