[1]Gabriel da Silveira Ângelo
RESUMO
O artigo propõe discutir o processo de aprendizagem segundo Paulo Freire segundo seu ponto de vista sobre a estrutura educacional capitalista. Contudo ao discutir o processo de aprendizagem, baseia-se pela percepção do individuo como ser histórico e como ele se move perante os modos produtivos e a influencia do capital no contesto educacional.
Freire propõe uma visão libertadora de educação, destacando a importância do educador como sujeito de transformação e libertação. A contribuição de Freire trás para o educador as reflexões necessárias para o processo de aprendizagem e formação do individuo como sujeito da história. O debate acerca do processo de aprendizagem esta relacionado diretamente com o processo estrutural do sistema econômico capitalista.
Palavras-Chave: Aprendizagem; Educação; Capitalismo; Marxismo
INTRODUÇÃO
Compreender o processo de aprendizagem no contexto capitalista, trás latente que para se compreender o processo de aprendizagem no capitalismo, é necessário analisar o contexto produtivo e social. Marx ao questionar o capital teve como ponto de partida a analise a partir da história e dos meios produtivos a qual juntamente com Engels chamou de materialismo histórico.
Ao que não deixou de perceber o meio social de trabalho sob a formação do individuo como ser social. Marx relaciona a formação do individuo perante analise material dizendo que “não é a consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (1982, p. 14). Marx e Engels não escreveram diretamente sobre o contexto educacional, mas sim para o âmbito social a qual se inseri a isso a educação.
Não cabia apenas para Marx e Engels abordar o contexto educacional, a ciência marxista tem como proposta analise a reflexão do sujeito como sujeito da história. Essa discussão sobre materialismo histórico não se limita apenas em caminhar pelo campo econômico, mas sim como mecanismo humano através da sua realidade.
A CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE SOBRE ATO EDUCAR
A contribuição do marxismo logo mais tarde é trazida pelo pedagogo Brasileiro Paulo Freire em sua analise de educação libertadora. De acordo com Freire (1996) “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Freire se espelha diretamente na concepção filosófica de Marx de transformação de mundo. Freire percebe o método educacional capitalista como um método bancário de transferência de conhecimento:
Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa inclinável é “encher” os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE 1982, p.33).
Paulo Freire contrapõe a realidade em relação às condições de transferência de conhecimento na sala de aula onde o professor é detentor do conhecimento e que só ele que pode ensinar. Sendo assim questiona a “Cátedra” modelo a qual o professor é o detentor exclusivo do conhecimento. Juntamente a essa percepção pode se refletir que as escolas funcionam como forma de banco não só no contexto de transferência de conhecimento, mas também de forma estrutural onde os alunos são trazidos para escola com a finalidade de ser depositados enquanto seus pais trabalham.
Tendo em vista isso, é notório que o modelo produtivo reflete diretamente na estrutura educacional, portanto no contexto capitalista a escola é vista pela perspectiva de mecanização e produção. Paulo Freire propõe que essas barreiras sejam quebradas pelo educador através do dialogo e da reflexão sobre seu ser social:
O diálogo, como encontro dos homens para a tarefa comum de saber agir, se rompe, se seus pólos (ou um deles) perdem a humildade. Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? (FREIRE 1982, p.46).
O educador não deve se portar em uma condição de autoridade, pois a condição de aprendizagem em momento algum coloca em critério a autoridade, o educador deve trazer através do dialogo o despertar para o processo de aprendizagem a seu aluno. Trazendo para uma perspectiva construtivista o educador não tende apenas ser o detentor do conhecimento, mas sim aprender com os alunos e sua realidade e suas experiências.
Para entender o processo de aprendizagem e troca de conhecimentos Freire propõe ao educador trazer aos educandos a relação de sujeito da história e sujeito da realidade e a visão quanto individuo do mundo. Essa reflexão não se limita apenas para a relação sala de aula, mas para todo o meio social a perceber o enfrentamento do sujeito com o mundo.
Em todas as etapas da descodificação, estarão os homens exteriorizando sua visão de mundo, sua forma de pensá-lo, sua percepção fatalista das “situações-limites”, sua percepção estática ou dinâmica da realidade. E, nesta forma expressada de pensar o mundo fatalistamente, de pensá-lo dinâmica ou estaticamente, na maneira como realizam seu enfrentamento com o mundo, se encontram envolvidos seus “temas geradores”. (FREIRE, 1982, p. 115).
Freire mostra o papel do educador que é trazer para suas aulas a realidade dos indivíduos que ali estão a um objetivo real, isso esta associada à condição de mediação. Portanto o estabelecimento da critica esta associado também ao concreto ou ao objeto de cognição.
Na medida em que representam situações existenciais, as codificações devem ser simples na sua complexidade e oferecer possibilidades plurais de análises na sua descodificação, o que evita o dirigismo massificador da codificação propagandística. As codificações não são slogans, são objetos cognoscíveis, desafios sobre que deve incidir a reflexão crítica dos sujeitos descodificadores. As codificações, de um lado, são as mediação entre o “contexto concreto ou real”, em que se dão os fatores e o “contexto teórico”, em que são analisadas; de outro, são o objeto cognoscível sobre que o educador-educando e os educando-educadores, como sujeitos cognoscentes, incidem sua reflexão crítica. (FREIRE, 1982, p. 128).
Outra discussão esta associada a mediação e capacitação do docente,e sua capacidade como mentor de indivíduos isso esta relacionado a sociabilizarão de conhecimentos para o processo de aprendizagem.Freire ressalta:
A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. (FREIRE, 1997, p. 102)
Hoje para o professor se coloca essa condição, uma boa aula se reflete também no domínio que o docente deve ter, não esta associado a condição simplesmente autoritária,mas de segurança em relação a troca de conhecimento e experiências que o educador deve ministrar.Por isso o processo de aprendizagem esta diretamente ligado também a esse aspecto de mediação e domínio do conhecimento a ser sociabilizado.Não é uma tarefa fácil,pois exige o preparo e a formação do individuo docente e sem esquecer realidade semanal de um docente,que muitas vezes cumpri uma jornada semanal que não permite um bom rendimento.
A condição libertaria deve estar alicerçada na concepção filosófica do docente para que ela de fato resulte em libertação. De acordo com Freire a libertação é condição de conquista por isso o docente deve tornar como conquista seus alunos a uma reflexão libertaria:
A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. (FREIRE, 1987, p. 35)
A reflexão de educar não esta exatamente associada apenas transmitir teoria. A humanidade até os dias atuais vive de sua história materializada pelos homens que aprendem por si e com mundo. Como próprio Freire coloca que “Ninguém se educa por si próprio, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comum, midiatizados pelo mundo”. (FREIRE, 1993, p. 9)
A aprendizagem caminha diretamente no campo do saber. Freire não se limitou apenas em analisar a educação a um único ponto especifico, a analise de Freire fez frente à compreensão do campo do saber de cada sujeito. Como próprio Freire (1982, p.68) pontua sobre o campo do saber de cada sujeito: ''Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes''.
Contudo cabe o educador compreender o aluno nessa perspectiva, pois o processo de aprendizagem do individuo remete a condição pessoal de absorver o aprendizado. Essa é uma constante analise abordada por Freire, pois o educador deve se mover através da compreensão como sujeito e do mundo a uma condição de fazer com que seus alunos também compreendem está reflexão.
Essa contextualização desafia o educador a se colocar na condição de libertador diante da prática. Segundo Freire:
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro a tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática. (FREIRE, 1991. p.58)
A posição de um educador não esta apenas associada ao elemento “profissão”, e sim a um papel fundamental para a sociedade. Além da compreensão de sujeito como libertador. O fundamental não é sua compreensão apenas no campo subjetivo de educar e sim no campo do concreto de se ensinar e transmitir conhecimento. Com todos os paradigmas e com todas as incertezas o educador deve estar ciente da sua importância e de sua contribuição para sociedade.
O papel do Marxismo não é apenas compreender o mundo e suas condições sociais. O Marxismo se coloca em uma condição de transformar o mundo. Como o próprio Marx disse sobre os filósofos e a filosofia "Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo" (MARX e ENGELS, 1996, p. 14). Dessa forma é importante para o educador ter essa compreensão de ser agente possível de uma transformação no campo do conhecimento e no ato de aprender e inevitável no ato de transformar. Além de tudo isso, a compreensão do processo de aprendizagem deve estar relacionada também a realidade e a diversidade de saberes.
A compreensão de saber exclusivo é posta em uma condicionante pelo modelo de educação capitalista, por isso Paulo Freire vem quebrar com esta condicionante e colocar o campo do saber ao individuo não a um mecanismo social de exigência. Esse saber é de todos, e muito menos exclusivo.
O educador deve enxergar o processo de aprendizagem sob a noção de mundo e como transformá-lo, eis uma tarefa que parece estar em um campo “Lúdico”, mas é preciso compreender que não há tempo e nem espaço para o “Lúdico” o educador deve ir de encontro a sua história e a história da humanidade. A busca pela compreensão exige se apegar ao movimento dessas desenfreada engrenagem a qual remete cada dia prender a sociedade a essas esquinas perigosas da história. O educador tendo essa compreensão certamente saberá que o conhecimento é revolucionário e que o conhecimento e aprendizagem é libertam.
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Política e educação. São Paulo: Cortez, 1993
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 2 ed. São Paulo, Nova Cultural, 1985. ______. Para Crítica da Economia Política e outros Escritos. São Paulo, Abril, 1982
MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 10ª ed. São Paulo, Hucitec, 1996.
[1] Estudante do curso de geografia da UNESC ( Universidade do Extremo Sul Catarinense).