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MMA: Esporte ou barbárie

Por Everson Matias

Esvazie sua xícara primeiro, só então você poderá provar meu chá. Afinal de contas a utilidade da xícara está em poder esvaziar-se. Abra sua mente para receber novas ideias.

Bruce Lee

A grande surpresa entorno da derrota de Anderson Silva e o crescimento vertiginoso dos eventos de combates de MMA, marcam uma etapa de grande crescimento e prestígio de um novo esporte. Existe uma febre hoje que contagia crianças, jovens e adultos. É fácil observar em bares e restaurantes canais de combate. Nas escolas públicas, cadernos, mochilas, bonés e camisetas com o rótulo do UFC Combate se tornam moda entre os estudantes.

Da mesma forma, torneios e combates amadores e semiprofissionais se multiplicam, assim como academias de uma dezena de artes marciais.

O tempo dos bombadões ficou para trás, a moda agora é ser“Spiderman”.

Esporte ou não a problemática divide opiniões: muitos não o consideram como esporte. Acham que é violento e lembram com saudades do auge do boxe, outros são imparciais, mas assistem. Há ainda aqueles que acham que é feito por profissionais treinados e que tampouco é diferente do antigo vale tudo, modalidade de barbárie dos eventos de luta.

Mas o que seria de fato o MMA?

Atualmente muitas pessoas estudam artes marciais por motivos variados: defesa pessoal, coordenação física, equilíbrio psicológico e desenvolvimento da personalidade.

O foco na respiração possibilita a diminuição do cansaço além de evitar o stress e a depressão.

Enquanto arte marcial, o MMA não fere qualquer princípio. Pode ser considerado um esporte de autodefesa, é dialético, pois combina dentro de um mesmo praticante, as melhores técnicas de combate de diferentes especialidades: a imobilização e o solo do jiu-jitsu, os chutes da capoeira ou do Mauay-Thay, ou especialidades refinadas do Kung Fu.

Mas não estamos falando da mesma coisa quando tratamos de UFC ou qualquer evento do gênero.

O UFC, assim como tantas outras organizações competitivas na moda contemporânea, se traduz por manter duas pessoas presas dentro de um determinado espaço, aplicando todas as técnicas possíveis até que um dos oponentes perca a consciência ou desista antes de uma lesão mais grave. Trata-se de um negócio bilionário que arrasta multidões em todo o mundo e não se limita somente ao esporte. Seu conteúdo é absorvido consciente ou não pelo indivíduo e se converte em cultura, materializando-se na moral e se convertendo em método de luta pela sobrevivência em uma sociedade em decadência.

Estudando tais fenômenos, Martín Hernandez expõe que:

Vale tudo das empresas para manter seus lucros. Vale tudo do imperialismo para apropriar-se dos recursos naturais. E esse “vale tudo” dos opressores leva, inevitavelmente, ao vale tudo dos oprimidos. Vale tudo para conseguir um emprego, e vale tudo para mantê-lo. Vale tudo para conseguir uma casa. Vale tudo para conseguir um lugar na escola ou na faculdade. O vale tudo dos oprimidos expressa a luta pela subsistência em um mundo que está sendo destruído, cotidianamente, pelo imperialismo decadente.

Isso porque, a partir da I Guerra mundial, a sociedade capitalista entrou numa etapa definitivamente decadente. Todas as inovações técnicas e conhecimento científico não serviram para alimentar as forças progressivas da humanidade como arte, equidade social, cultura, educação, saúde ou o desenvolvimento humano, mas o seu contrário. A crise desta sociedade, também levou a crise de sua moral, assim os valores que antes eram inquebrantáveis hoje são métodos válidos para se obter vantagens, não raras vezes materiais.

O estado decadente se degenera. Para não extinguir-se se defende com todos os seus métodos. Inclusive os marciais. Atualmente os estados mais violentos, de Israel e o Americano possuem entre os seus treinamentos técnicas marciais avançadas, sendo aplicadas sobre povos muito pobres como os palestinos, afegãos e Iraquianos. No Brasil, muitos “caveiras”

(soldados do Bope) frequentam academias e mestres marciais prestam serviço como instrutores das forças armadas seja ela policial ou militar.

A noção de arte marcial como instrumento de defesa dos oprimidos praticamente não existe mais. A essência foi violada. Os segredos milenares, transmitidos entre mestres da mesma forma que o MMA entrou na ciranda do vale tudo.

Isso nos leva a outra conclusão: A de que nossos avós estavam certos, os tempos hoje não são os mesmos.

O Estado como poder centralizado e defensor do modelo social existente necessita, por uma questão vital, aplicar a violência de forma organizada: Polícia Militar, ROTA, CHOQUE, BOPE e exército. Não faltam exemplos, sobre tais aparelhos, tampouco de sua função social.

Este estado está a serviço de uma classe, a classe capitalista, enquanto ela dominar e manter seu modelo de sociedade persistirá a decadência moral. As crises persistirão e serão mais fortes o acirramento de interesses contrários: o dos trabalhadores e pobres oprimidos e a burguesia capitalista se aprofundará. O exército e a polícia ficarão mais violentos e os trabalhadores darão a sua resposta.

Para onde caminharemos?

O tempo que nos tocou viver pode ser definido por ser um tempo de crise: Crise econômica, crise ambiental, crise política, nuclear, crise de moral, crise de sociedade. Sem dúvida, um tempo de incertezas, mas fantástico de se viver.

Cabe aos oprimidos, organizar-se e defender um modelo de sociedade verdadeiramente humano, onde haja equidade social e toda a riqueza, originada do trabalho esteja a serviço da humanidade. Uma sociedade socialista.


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